segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O que está em jogo

Ricardo Berzoini

A trajetória do brasileiro Luís Inácio Lula da Silva marcou a redemocratização do Brasil de uma forma extraordinária. Uma liderança popular, oriunda do movimento sindical, com a simbólica origem na grande migração interna do Nordeste para o Sul e com o signo na luta pela liberdade de organização dos trabalhadores. Contribuiu decisivamente para o fim da ditadura, somando a mobilização trabalhista de massas ao processo de resistência institucional, comandado pelo velho MDB e por lideranças intelectuais e religiosas. Fundou um partido político de baixo para cima e ajudou a criar uma central sindical democrática, que se transformou numa das maiores do mundo.

Sua biografia já seria magnífica, se terminasse por aí. Mas, disputando quatro eleições presidenciais, venceu em 2002, para assumir um país estagnado e sem perspectivas, subordinado à globalização financeira e apequenado nos fóruns internacionais.

Em apenas oito anos de governo, Lula tirou o Brasil do marasmo, despertou e coordenou forças positivas, transformou a economia e a política, e fez a grande obra referencial do início do século 21: recolocou a autoestima do povo em alta, como demonstram todas as pesquisas de opinião do fim de seus dois mandatos.

A desigualdade caiu fortemente, regional e socialmente, milhões migraram de classe socioeconômica, para melhor. O desemprego caiu pela metade. O país voltou a crescer. Programas inovadores, em várias áreas, tornaram-se referências internacionais. A educação técnica e superior ganhou grandes investimentos. Lula foi reeleito e elegeu sua sucessora, A primeira mulher presidente da República. Não caiu na tentação de um terceiro mandato, como muitos apregoavam insistentemente, temerosos de sua popularidade. Muitos anunciaram o mito, por mais que ele próprio sempre tenha preferido sua dimensão humana de cidadão. Foi reverenciado em boa parte do planeta como um exemplo de liderança. O cara, como disse um certo presidente de um importante país.

As recentes tentativas de desgastar sua imagem não são novidade na história do Brasil, nem na vida de Lula. Mas demonstram a intolerância daqueles que não se conformam com os resultados das urnas e buscam outros territórios para tentar a revanche. Lula nunca se afastou de suas convicções e, como pessoa, sempre sacrificou sua vida pessoal para conduzir as lutas populares. Formou uma geração de lideranças, estimulando o surgimento de novos quadros políticos em seu partido, que sabe se renovar, a cada período.

Tentar lhe atingir moralmente, com base em ilações e suposições, é a última esperança dos que não souberam perceber que o povo brasileiro hoje tem muito mais discernimento e confiança em suas avaliações, exatamente por ter percebido que aquele que sempre foi atacado e desprezado pelas oligarquias revelou-se o líder necessário que recuperou a confiança nacional. Como com Getúlio e Juscelino, os oligarcas sentem a necessidade de destruir o mito. Mas o mito é líder. E é chamado novamente a percorrer o Brasil, sem medo de ser feliz, para dizer claramente o que está em jogo.

Ricardo Berzoini é deputado federal (PT-SP) e presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados

(Artigo publicado originalmente  no jornal O Globo, edição do dia 17 de dezembro de 2012)

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